terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"Há males que vêm para o bem..." Vc também já ouviu isso?

Nasci e cresci em São Pedro dos Ferros, cidadezinha do interior das Minas Gerais, mais especificamente da Zona da Mata, com 8.000 habitantes. Todo bom mineiro, quando viaja para Guarapari ou outra praia do Espírito Santo, passa pertinho da entrada da minha terra natal. É assim que dou as coordenadas geográficas para explicar de onde sou. Aqui em Minas perguntamos desse jeitinho: "de onde cê é?" Nada da sofisticação de "onde você nasceu?"
Acho que é porque acreditamos ser, pela vida toda, do lugar onde nascemos. É que as coordenadas morais (não estou encontrando palavra melhor) continuam impressas em nós. Podemos até contrariá-las, mas impossível apagá-las.
Brinquei na rua, estudei em escola pública sem nunca ter visto agressões aos professores, andei à pé e descalça o quanto quis. Aos sete anos de idade tinha toda a cidade mapeada pela sola dos pés. Conhecia todos os moradores da rua direita e boa parte da esquerda. De casa até o armazém ou a padaria, eu cumprimentava, pelo nome, todos que encontrava. Era um mundo pequeno, mas nele eu me movimentava com muita liberdade. Acho que foi aí que comecei a tomar gosto por esse sentimento.
Voltando às coordenadas, muito da minha educação veio do uso dos ditos populares. Lá em casa se repetia:

_"há males que vêm para o bem"
_"muito riso é sinal de pouco siso"
_"pedra que muito rola não cria limo"
_"água mole em pedra dura, tanto bate até que fura"
_"onde comem 10, comem 20"
_"mais vale um pássaro na mão do que dois voando"
_"não conte com ovo na barriga da galinha"

A interpretação familiar dessas afirmativas  ficaram sacralizadas na minha memória. Elas se manifestam na minha visão dos fatos. Às vezes de forma fantasiosa, noutras, com um ar de verdade. Muitos dos ditos eram contraditórios entre si. Mas era praxe fazer o fechamento de uma idéia com uma desssas pérolas da cultura popular. Os meus, tinham um gosto pela eloquência.
Lembrei agora de duas situações divertidas. Até pouco tempo atrás, usava uma panela imensa para fazer arroz. Por obra exclusiva da minha imaginação, chegariam mais 10, de surpresa, para almoçar. Nunca chegou! Então, fazia os aproveitamentos, sempre queixando porque o alimento não estava fresquinho.
Mas a lembrança estava lá, guardadinha na forma de um hábito: "onde comem 10..."
Acho lindo como Gilberto Gil definiu isso numa de suas músicas: "toda crença quer se materializar, tanto quanto a experìência quer se abstrair".
O segundo caso diz respeito ao dito "muito riso é sinal de pouco siso". A responsabilidade e o trabalho foram excessivamente cultuados pelos meus pais. O riso fora das festas não era lá muito bem visto. Havia uma confusão de conceitos: o ato de rir poderia afastar uma pessoa das suas obrigações ou ela parecer menos competente. Essa distorção pode ter relação com alguma tradição do catolicismo ou com a visão dos bobos e doidos do interior, sempre muito sorridentes. Afastar o riso servia para manter bem longe a insanidade. Não saberia explicar porque a boa gargalhada não era assim, digamos, uma das delícias do nosso convívio. A seriedade ganhava de dez a zero na escala de valores. O fato é que também me tornei meio desconfiada de quem ri demais. É hilário, mas é verdade! Até hoje quando solto uma risada com força e vontade, olho para os lados para conferir se não me excedi.
Mas essa história toda foi para chegar no "há males que vêm para o bem". Hoje, estive a ponto de cometer uma das minhas típicas repetições, que com certeza desaguaria em erro e frustração no futuro. Enquanto dava seguimento ao meu plano, pensava com uma ingenuidade forçada: "as pessoas mudam, todos merecem uma segunda chance, eu não tenho outra alternativa para resolver o meu problema..."
Pois bem, uma série de desacertos aconteceram e não fiz o acordo previsto. Esbravejei até falar chega! Depois calei e vi que o problema atual vai persistir por alguns dias e vai passar, como todos os outros. O destino se encarregou de desacertar as coisas, me protegendo de cometer um grande erro e ter que assumir, em pouco tempo, um problema muito maior.
Lembrei na hora do bendito ditado. Guardei bem as palavras. Da próxima vez que alguma coisa não estiver dando certo, pararei para respirar. Depois, vou perguntar para as coincidências, aparentemente malditas, se não estariam ali para me poupar de um desgosto muito maior.
Acho que todo mundo tem uma historinha assim. Deixe a sua nos comentários!
Até amanhã.

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