quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Em paz com o tempo

Adoro ter a minha idade atual. Não sei se gostarei das próximas, mas estou amando olhar para todos os fatos com olhos de 42 anos. Tantas situações me aborreciam. Olhava para o futuro com apreensão, achando que deveria cumprir uma lista interminável de requisitos para ter direito à felicidade.
Hoje, sou feliz quando quero. Os acontecimentos podem facilitar ou dificultar, mas não podem determinar. O "tem que" está escasseando até no meu jeito de falar. Se isso está parecendo delírio, principalmente para uma mulher moderna, não é. Estou fazendo escolhas. Se tenho que fazer uma coisa, abro mão de outra, com boa vontade.
Brinquei muitas vezes que nunca tinha lido os clássicos Pollyanna e Pollyanna Moça. A história da garota que sabia fazer o jogo do contente. Por mais cruel que pudesse parecer um fato, ela conseguia sentir esperança e ver bondade. Fez falta essa capacidade aos 20 e aos 30. Tornou-se dispensável aos 40. Tudo ficou mais suave, de maneira que não preciso me exercitar para ver o bom e o belo de cada experiência.
O tempo foi habilidoso me presenteando com oportunidades de abrir mão do orgulho e da vaidade. Pouco a pouco, vi que o prazer de "alfinetar" ou de "responder à altura", é muito menor do que o de rir das pequenas contrariedades. Elas estão lá, todos os dias. Mas, não reverberam. Aprendi alguns recursos: de vez em quando um palavrão, um chega prá lá, um "tô nem aí". Passa... Se fica, convido para conversar e pergunto o que espera de mim. Se a exigência é razoável, cedo para ficar em paz. Caso contrário, boto pra correr.
E a tolerância? Sabe a história de precisar de alguma coisa para ontem? Sumiu. Depois desse tempo de vida, já tive que fazer tantas concessões ou substituições que os problemas não são mais que desafios.
Melhor de tudo é ter outra vida para aproveitar. Calma! Não estou falando de reencarnação! As gerações de 40 anos atrás, tinham uma expectativa de vida muito menor, parece que nos anos 60 as brasileiras viviam, em média, 50 anos. Assim, uma balzaquiana era uma senhora. Uma quarentona, idosa. Viver de cinquenta a sessenta anos era sorte, capricho da genética, ou um grande azar, porque a qualidade de vida e a saúde eram péssimas.
Houve uma inversão bacana. Aos quarenta, eu e minhas amigas temos o mesmo vigor dos vinte e um jeito mais sábio de viver. Mesmo quando há doenças, as possibilidades de sobrevida com bem estar, são infinitamente maiores. Bom, o corpo carrega as marcas do tempo. As feridas dos combates, os sinais do quanto sorrimos ou choramos pela estrada afora. Acho que é por isso que amo minhas rugas. Quando me olho em um espelho de mão, com a ponta do indicador vou percorrendo suas trilhas. Estão indo cada vez mais longe. Eu, cada vez mais encantada com elas.
Acho Adélia Prado liiiinda! Os cabelos brancos, o rosto sulcado e a sabedoria tão visível, possível de ser tocada.
Estou em paz com o tempo. Espero a ajuda dele para emagrecer. Para convencer-me a mastigar lentamente, fracionar minhas refeições, escolher o que é mais saudável e por fim, trocar um pouco das horas na empresa por uma caminhada.
Até amanhã!

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