quarta-feira, 29 de setembro de 2010

NOVA PESAGEM... VOU PASSAR MEU ANIVERSÁRIO MAIS LEVE

"Quarenta anos é demais pra uma mulher. Prefiro quarenta e dois"..."quem escreve feito eu esgota o zumbido de seu ouvido, mata um a um os marimbondos, com agulha fina, nos olhos."
Adélia Prado, em Solte os Cachorros

Amanhã farei 42 anos. Estou feliz. Hoje voltei a me pesar e se foram 700 gramas. Desde o dia 15, quando decidi começar o blog, emagreci 1,7kg. Não estou à vontade, parece que amanhã vou engordar tudo de novo. Mas, a disciplina de escrever todos os dias nesse período me acende uma esperança. Penso que posso ser disciplinada também para seguir um plano alimentar.
Tenho feito um procedimento que todos os especialistas desaconselham. Coloquei uma balança digital à vista e tenho me pesado 3 a 4 vezes por semana, sempre de manhã, antes de tomar café. Estou anotando todas essas pesagens. Só de ver que está um pouquinho abaixo ou que meu peso não aumentou em relação à pesagem anterior fico mais animada. Então, para mim, essa estratégia está sendo útil.
Ainda não estou seguindo um plano alimentar específico, além disso enfiei o pé na jaca muitas vezes, mas estou comendo um pouco mais lentamente.
Sou muito grata às mensagens carinhosas que tenho recebido aqui, pelo orkut e email. Cada mensagem me anima,  reforça o meu compromisso e me deixa mais próxima de todos. Ao final, teremos uma vitória coletiva. Cada recado ou comentário é um motivo para continuar. Obrigada.
Até amanhã.

28/09/2010 BANQUETE DO AMOR

Hoje voltei à locadora e o filme Banquete do Amor estava bem à vista. Lembrei de uma cena que me sensibilizou bastante e serve para ilustrar o meu entendimento sobre a depressão. Comecei a partilhar com vocês esse assunto. Não pretendo me estender, mas é parte da minha história e a forma como lido com esse dilema pode ser útil.
Voltemos à cena: depois de viver uma grande decepção amorosa um personagem, não me lembro o nome, sente-se tão abatido, amargurado, dolorido, então vai à cozinha de sua casa e faz um corte na própria mão. Ao ser socorrido pelo atencioso vizinho (Morgan Freeman) ele diz que sua dor da alma era tão intensa que queria descobrir se haveria uma dor física que pudesse ser comparada.  Quando assisti, também estava sofrendo dessa dor na alma, por isso não esqueci a cena. Quando relembro fico emotiva.
Dor na alma é a definição mais clara que encontrei para depressão. Começa fininha, intermitente, vai crescendo, inundando, paralisando. Quando não me cuido ela assola. Ocupa o dia com pensamentos nefastos e a noite com a insônia.
Tratamento correto, a vida volta a ter a ter cor, cheiro, sabor e textura. Há momentos tristes, decepções, dúvidas, irritação, mas tudo suportável e na medida certa para contratar com alegria, surpresa, esperança, enfim, bem estar.
Durante o primeiro ano de tratamento com medicamentos antidepressivos engordei 20 kg. Foi o período que deixei de ter um sobrepeso e passei a ser tecnicamente obesa (lembrando a tal tabelinha do IMC). Tenho motivos para crer que, no meu caso, há uma relação direta entre as duas situações.
Atualmente estou muito bem. Há mais de um ano não tenho sintomas depressivos. Uso medicamento e não faço atividade física como é recomendado por 20 entre cada 10 profissionais que converso.
O capítulo da depressão acabou. Por enquanto não há mais o que falar e espero continuar não tendo ao longo desse ano.
Completei duas semanas inteirinhas postando diariamente! Estou muito feliz e esse sentimento se expande me dando a certeza que sou capaz de persistir também em outros objetivos.
Até amanhã!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

27/09/2010 Sobre o excesso de imagem

Na postagem de ontem quis partilhar a minha linha do tempo. Mas confesso que ando meio bolada com uso  de imagens por todos os lados. Essa enormidade de fotos e ilustrações dão a impressão que estou vivendo em um mundo com barulho permanente. Acho que o olhar também precisa de repouso.
A multiplicação das máquinas digitais me dá a impressão que as pessoas ao invés de viver resolveram fotografar.
Vejo pais que nos momentos de folga deixam de brincar com as crianças para se divertir com suas câmeras, incomodando os meninos com tantos flashes. No bar, os amigos se encontram e não conversam, tiram foto. Os lugares bonitos que não servem para ser contemplados, mas para ser fotografados. Outro dia fui a um casamento e não pude evitar o riso quando vi o fotógrafo sinalizando com a mão para o padre afastar. 
Que tipo de lembrança essas fotos podem evocar?
Minhas fotos acordaram muitas emoções. Elas retrataram momentos importantes, felizes, emocionantes. Acompanharam cada um dos rituais de passagem da minha vida. Ao admirá-las enxerguei uma vida muito feliz, afetiva, intensa, apaixonada, reflexiva.
Tenho duas filhas maravilhosas. Elas são adolescentes delicadas, atenciosas, justas, profundas e generosas. Minhas fotos mais felizes são ao lado delas e do Fernando. Formamos uma comunidade que aprendeu a dialogar. Acho isso uma super realização. Quando acordo de madrugada com alguma apreensão busco repouso na lembrança desses meus companheiros de caminhada. Sempre fecho os olhos e suspiro de contentamento por estar com eles.
Sou uma pessoa bastante realizada e consciente desse privilégio. Mas, passei períodos profundamente deprimida na última década. É misterioso para mim e mais ainda para as outras pessoas. Quando ficam sabendo que uso medicamentos antidepressivos, se assustam. Eu superei o susto e não fico aumentando minha inquietação com questionamentos. Procuro fazer a minha parte para viver da melhor forma possível.
Há onze anos uma tristeza enorme, pensamentos derrotistas, desânimo profundo me assolaram. Comecei a fazer tratamento médico. De lá até hoje fiz quatro ou cinco tentativas de retirada de medicamento, uma vez por minha conta e as outras com acompanhamento profissional. Mas os sintomas retornaram e sinto-me insegura de fazer uma nova tentativa.
Entre os 20 e os 30 anos pesei entre 62Kg e 89Kg. Nas duas gestações fiquei enorme, cometi todos os abusos em nome do "você tem que comer por duas". Eu aproveitava e comia pra um batalhão. Depois da minha segunda filha o menor peso que tive, com muito esforço, foi 79Kg.
De sobrepeso a obesidade foi apenas um ano. Comparei as fotos do aniversário de 2 e 3 anos de Bruna.
Localizei no tempo e no espaço a obesidade. Na festinha de dois anos vesti uma calça 46, no ano seguinte já usava tamanho especial.
Esse é um assunto difícil...
Voltando à superficialidade, ao excesso de fotos, ao culto à imagem,  lembrei do espetacular QUEIME DEPOIS DE LER, dirigido pelos instigantes irmãos Coen. Um deboche despudorado às bestialidades do nosso tempo. O que mais me divertiu foi a obcessão da coroa por cirurgias plásticas, sua busca pelo homem de sua vida nos jornais. DIVIRTA QUANDO ASSISTIR.
Até mais, sem imagens hoje, vamos descansar.

26/09/2010 Fiz uma linha do tempo

Depois da iniciativa de criar o blog voltei às fotos e resolvi fazer uma linha do tempo com imagens. Foi um exercício muito interessante porque consegui localizar o momento em que o sobrepeso se instalou, lembrei os fatos que foram marcando minha vida e meu corpo.
Vi  que a minha obesidade pode ser entendida, em grande parte, como a materialização de uma imagem corporal distorcida.
A partir dos 13 anos comecei a ter uma preocupação excessiva com o corpo. Ao olhar as fotos me achei linda, mas, naquela época só via defeitos. Cultuava uma beleza ideal e criei uma auto-imagem muito diferente da realidade.  Olhava o espelho, e principalmente as fotos, e só via gordura. Nessa época pesava 52kg com uma altura de 1,60m. Esse era um corpo bastante razoável para quem não pretendia ser modelo. Essa desaprovação não era só com o peso, lembro que fazia as maiores loucuras para ficar bronzeada. Eu usava o óleo TAM o TOM que fritava minha pele ao sol e até coca-cola misturada com água e sal grosso. As  outras maluquices são inconfessáveis. Detestava ser branquinha e o preço é que hoje tenho um milhão de manchinhas de sol.
 Foi uma D E S C O B E R T A a constatação que a obesidade é um problema da minha idade adulta e não da minha vida toda.
 Acho me tornei mentalmente gorda aos 15 anos. Com 52Kg passei a sentir todas as culpas e me impor todas as restrições descabidas porque me via com sobrepeso. Ao mexer no baú das fotos e da memória vi que meus sentimentos pelo meu corpo de hoje são muito parecidos com aqueles de quase 30 anos atrás. Por enquanto estou concluindo que meu peso é a materialização dessa imagem aumentada construída na adolescência.
Estou amando rever minhas fotos com esse novo olhar, mas confesso que era com apreensão que recebia os pacotes que chegavam da revelação. Quando recebia elogios acreditava que eram suspeitos. Esse sentimento condicionou a minha relação com o meu corpo.
Fico pensando nas garotas de hoje. De forma geral elas parecem amar fotos. Mas será que amam sua imagem? Como será que se sentem ao se comparar com as modelos fotoshopadas?
Não estou identificando agora quais foram os meus referenciais para definir o que era um corpo ideal e porque o meu não era. Gostaria de lembrar e se lembrar, eu conto. Não costumava ver revistas e nem idolatrava modelos, que por sinal eram manecas. Internet? Era só sonho de cientista. Então vou  pesquisar as novelas.

Mais um pouquinho de pimenta nesse prato... Se defini que o meu corpo não era o meu referencial de beleza por que usei minha energia para engordar e não para perseguir o meu ideal? Um pouco indigesto, não? Mas estou aqui para provar novidades e não para experimentar só as delícias. Você vem comigo?
Até
Segue um pouquinho da linha do tempo. Escolhi as fotos mais sorridentes. Em quase todas as outras eu apareço séria.


 6 ou 8 meses – foto do meu cunhado Paulo

2 anos- Com meia rendada e botas de presente do meu cunhado José Ângelo. Foto do Pedrinho, o  retratista oficial da família.










5 anos  - Primeiro dia de aula, uniforme e merendeira nova (de casinha) para ir a escola da Tia Jane. Foto da Maria das Graças a outra retratista da cidade.
10 anos. Que evolução! Alguém na família comprou uma câmera colorida.










12 anos – Desfile de 7 de setembro. Eu adorava! Ficava emocionada com a homenagem à Patria.



15 anos – Aqui eu já era uma mocinha. Adorava namorar e fazia muito sucesso entre os mocinhos.













Festinha de 16 anos

17 anos_ Essa foto  marca o fim da minha adolescência em São Pedro dos Ferros. Na semana em que foi feita mudei para Belo Horizonte para estudar e me preparar para o vestibular.












Espero que TAM O TOM tenha saído do mercado, assim como sumiram o retratista, a maneca, e em grande parte o meu sentimento patriótico.
Até mais. Aguarde novas fotos

sábado, 25 de setembro de 2010

25/09/2010 Divirta-se com Hair Spray

Essa semana assisti Hair Spray, o filme vai direto ao tema da obesidade, não faz rodeios quanto às diferenças de tratamento e, por consequência de oportunidades, entre gordos e magros. Mas é divertido, dançante, alegre e com final feliz. Tem um elenco de primeira. Vale a pena ser visto numa tarde de domingo, mais para divertir do que para refletir.

Mais uma vez lembro que meus comentários são completamente despretenciosos. Não tenho formação para criticar, apenas gosto de histórias bem representadas. Entre a diversão e a emoção vou colhendo impressões e estou partilhando-as aqui.
Amei encontrar no filme um casal tão inpirador, interpretado por Jonh Travolta e Christopher Walken. Eles são apaixonados e apaixonantes. Há uma cena lindinha dos dois dançando, se olhando, se acariciando cheios de sedução. A cena me deu a  coragem necessária para abordar um tema tabu.
A obesidade determina o fim da sensualidade? Depende do quanto a visão externa sobre o assunto é capaz de bombardear a nossa auto estima. O mercado editorial, o cinema, a televisão veêm a sensualidade como um atributo unicamente físico, assim estar gordo é sinal de pertencer a um clube de assexuados.
Morro de rir dessa visão. Porque há casais maaaaagros que apenas se suportam e provavelmente desconhecem qualquer forma de prazer compartilhado. Nas fotografias aparecem como "a" encarnação da sensualidade.  Não estou desprezando o sofrimento que isso possa lhes causar, estou debochando da superficialidade, da crença equivocada que basta ser enxuto para ser desejável.
Vai aí um depoimento bombástico para quem se deixa escravizar pelo culto à forma física. Eu e o Fernando estamos juntos há 23 anos. Construimos uma linda história de amor. Passamos períodos muito apaixonados, outros menos, às vezes estamos mais românticos, noutras menos e passamos também alguns períodos bem práticos, porém, nunca ficamos indiferentes. O tempo nos tornou mais atraentes um para o outro. A cumplicidade, a intimidade, o conhecimento dos nossos corpos, gostos e limites causa um encantamento que transcende meu problema de excesso de peso.
Tenho certeza que ele quer que eu emagreça, afinal presencia a minha tristeza e preocupação com as dores na coluna e no joelho que estão limitando minha mobilidade. Porém a sensualidade é para nós um conjunto de coisas, não depende apenas da forma física, por isso "o nosso amor a gente inventa" (cazuza). Assim como em Hair Spray, superamos limites.
Mudando de assunto, desde que comecei a escrever parei de ler...
Incoerência total. É que ainda não consegui distribuir bem o meu tempo.
Hoje vou começar a releitura de A cabala do dinheiro. Um tira gosto para entender o motivo da minha escolha:
"De três maneiras é um homem conhecido: por seu copo, por seu bolso, porsua ira".
Inspirado nesse ditado judaico o autor Nilton Bonder escreveu a trilogia A CABALA DA COMIDA, A CABALA DO DINHEIRO  e a CABALA DA INVEJA. Não sabia que o autor era uma pessoa tão interessante. Hoje encontrei seu site e fiquei mais animada com a leitura.
www.niltonbonder.com/ 

Por hoje é só. Até mais!



Essa é a foto do musical Hair Spray encenado no Brasil. Olha que fofo que está o Edson Celulari (vestido pink) na pele da Edna...


24/09/2010

Pessoal desculpem-me !
Ontem faltou luz, mas não a da inspiração, sim a luz eletrica ! rsrsrsrsrsrsrs
Mas hoje eu postarei !
Desculpem-me de novo
Beijos

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

23/09/2010 Hoje pesei...

Escrevi por uma semana com disciplina e sinceridade, sempre pensando nas pessoas com quem gostaria de partilhar minhas reflexões. Recebi apoio e carinho da família e de amigos. Esse exercício significou dedicação a mim, quietude, silêncio. Significou intimidade, profundidade. Consegui me propor questões importantes. Foi bom não ter medo de me expor e nem de encarar meus dilemas. Estou bem calma e isso refletiu na alimentação. Hoje pesei e emagreci 1 kg ao longo desses 8 dias.
Foi muito bom ver isso, mas ainda não tenho a segurança que isso se sustentará ao longo do tempo. Estou cheia de cuidados...
Não estou fazendo dieta. Apenas comi um pouco mais calmamente.
Criei um intervalo entre uma garfada e outra. Nesse tempo consigo decidir se continuo a comer e quanto preciso comer.
Agora só faltam 51 semanas...
Até.

22/09/2010 Os limites do meu mundo...

Ontem ouvi uma citação feita por Marcia Tiburi, no programa do Jô:
"Os limites do meu mundo são os limites da minha linguagem"
Aceitei prontamente.  Repousei momentaneamente nessas palavras, acreditando que a paz proporcionada pelo exercício da escrita seria uma prova incontestável da sua veracidade. Expressar a minha visão do mundo seria uma forma de criar mais espaço nele.
Calei. O silêncio me permitiu romper limites, deixar os apegos e entrar em um universo inominável. O conforto da meditação, a calma profunda, a respiração curta e lenta, os pensamentos quietos me anularam todos os limites por alguns momentos.
Experimentei mudar a frase para:  a linguagem cria limites para o meu mundo. Fez mais sentido.
Este é um exercício de pensamento totalmente descompromissado com a visão do autor, que infelizmente desconheço. Simplesmente foi uma frase que escolhi. Ela saltou direto pros meus ouvidos e fez o burburinho necessário para ser tema de hoje.
Então, entre limite e linguagem me perguntei porque tenho mais facilidade de usar a palavra obesa do que a palavra gorda.
Parece que gorda é xingamento, adjetivo com significados pejorativos. Já obesa é mais leve, parece doença, aí sim, é aceitável.
Por sorte, ou por reflexão, consigo me manter relativamente imune à carga depreciativa do rótulo gorda. O que acho feio mesmo é gente superficial, desonesta, e que não se posiciona conscientemente no espaço e no tempo que vive. Ser gorda, na minha visão, é estar momentaneamente com uma limitação física e, às vezes, fora de um conceito estético.
Essa consciência me permite ser independente, produtiva, me divertir, viver bem com meu marido, e receber um tratamento respeitoso das pessoas com quem convivo.
Mas muitas mulheres e homens engolem a idéia que ser ou estar gordo é ter um carimbo em sua identidade atestando que são cidadãos de segunda classe.
Consigo manter um distanciamento desse julgamento social que me permite autonomia e felicidade, mas conheço gente que chega pedindo desculpas por existir. Justifica-se à todo momento pelo seu corpo gordo, como se ele fosse o único instrumento de penalização ou de realização na vida. Me compadeço muito por isso.
Tenho diversos sofrimentos com o excesso de peso. Estou com restrições de movimentação, sinto dores constantemente, não consigo ter o mesmo pique de trabalho de alguns anos e kilos a menos e a glicose está ligeiramente acima do normal.
Quero urgentemente emagrecer. Estou ciente que há um preço muito alto a ser pago pelos excessos cometidos com a comida. Mas nesse preço, para mim, não está embutida uma dívida social.
Os limites do meu mundo não serão dados pelos sentidos depreciativos das palavras gorda ou obesa.
Gostaria que todos os gordos, negros, gays, idosos, deficientes físicos, soubessem lá bem dentro do coração que ser diferente é apenas ser... diferente.
Até.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

21/09/2010 ESCOLHAS

“O pensamento
É o que me traz o livramento
O que me deixa positivo
E que faz bem ao coração”
Pensar sobre escolhas me indicou um caminho e me deixou mais esperançosa. Tive um entendimento profundo, muito além da compreensão racional, que tudo é escolha. Parece óbvio, mas é difícil de ser assimilado quando a minha opção tem sido fazer coisas que estão me deixando obesa.
Um breve histórico...
Fui uma criança linda. Adoro ver minhas fotos! Fui bastante fotografada. Tenho um álbum lindo, o que não é muito comum entre pessoas da minha idade. Poucos tinham máquina fotográfica, meus cunhados tinham. Ou então, nos aniversários, festas juninas, casamentos e batizados o Pedrinho retratista estava por perto.  Ah! Preciso chamar a atenção para isso: a gente conseguia viver sem máquina digital!
 Voltando ao tema, não pesava mais do que as outras crianças, mas adorava comer. E acho que as pessoas percebiam isso porque vivia ganhando doce como presente. Adorava mirabel (alguém lembra?). Para ter maçã argentina, pêra ou iogurte eu até fingia estar doente. Mas a festa completa era o pão com salame acompanhado de fanta, o banquete do dias de piquenique.
 Em família, a comida era o centro das atenções em toda celebração. Tenho 7 irmãos e com dois anos já tinha sobrinhos. Somos todos sociáveis, alegres e festeiros. Minha mãe era uma anfitriã notável, agradabilíssima, afetiva, inteligente e vibrante. Acho que nos visitar era um bom programa e a casa sempre estava cheia. Minhas lembranças de almoço de domingo são sempre de mesa cheia. A casa era sempre farta em afeto acompanhado de bolos deliciosos, café, biscoito de polvilho frito.
Muitas vezes, quando estávamos almoçando chegavam mais cinco, seis, dez pessoas, dava-se um jeito e todos comiam. As panelas eram enormes e a culpa mínima. Comer era um ato festivo e ninguém à mesa abria a boca para falar de dieta no momento sublime de experimentar uma iguaria.
Agora preciso desabafar! Não suporto essa mania de conversar sobre dieta nos momentos festivos.  Rio muito de mulheres que na noite de Natal gastam seu tempo calculando as calorias da rabanada.
Bem, pelo que lembrei até aqui, acho que a comida diferente e até com exagero, estava presente em algumas datas. Como eram momentos muito alegres, essas lembranças ficaram muito vivas. Mas passadas os encontros da família a vida voltava para uma normalidade que se caracterizava por muito trabalho para todos, inclusive para mim. Acho então que por isso não havia nem excesso de gordura e nem de preocupação com ela.
Me ocorre uma pergunta interessante:
Será que ao comer excessivamente eu estou tentando reencontrar aquele clima alegre, colorido, afetivo das festas de família da minha infância? E você?
Essas memórias deveriam ser breves... Mas acho que vão durar mais.
Até!

20/09/2010 ESCOLHAS

Depois que comecei a escrever aqui estou mais atenta aos acontecimentos à minha volta. Tenho a impressão que tudo pode ser matéria prima para um texto. Estou achando muito divertido esse entusiasmo de iniciante. Hoje vibrei quando li os primeiros comentários. Meu desejo vai tomando forma, o blog começa a ser um espaço de interlocução.
Quando me aquieto para escrever é um dilema optar por um assunto. Começo duas, três, cinco, dez vezes, apago tudo. Depois de construidas as frases iniciais parece que entro em um estado psicológico diferente e simplesmente vou digitando. Faço revisões, releio, tento melhorar, mudo palavras, enfim, procuro dar uma forma mais agradável. Mas, vencida a etapa de escolha do tema, começa uma fluidez, a censura fica mais branda e o restante acontece.

Escolher é para mim o verbo mais difícil de ser conjugado. Entre sal e doce, frio ou quente, quero todos. De preferência bem dosados e com pitadas de azedo e amargo para dar "aquele" charme.

Penso que isso pode explicar, ainda que em parte, a minha obesidade.
Pensando um pouquinho melhor, se recuso a fazer escolhas é porque talvez eu veja só o lado desagradável da história: a perda. Mas toda vez que escolho, também estou tendo ganhos: exercito minha liberdade; deixo para trás a ansiedade de ter que escolher e, principalmente, fico com alternativa que me trará melhor benefício.  Então, por que será que não gosto de escolher? Essa história se repete: Pilates ou musculação? Começo na segunda ou na quinta? Antes ou depois da viagem? Dieta ortodoxa ou alternativa? Médico ou nutricionista?
Penso agora que ao me envolver nessas dúvidas vou adiando a ação. Sendo assim estou escolhendo continuar obesa, tendo todos os benefícios que essa opção me oferece. Não sei nomear quais são, mas sei que existem, senão já teria feito outro caminho. Aprofundando um pouco mais, o ato de não optar é a opção pelo adiamento da ação.

A sabedoria hindu diz que somos condenados a fazer escolhas. Vejo como uma verdade. Porém, um princípio que fica restrito ao pensamento, sem irrigar minhas ações.

Bom, para amenizar um pouco, vou contar que sou duplamente libriana, nasci em 30 de setembro de 1968, lá em São Pedro dos Ferros - MG. Quem não acreditar que meu ascendente também é libra pode ir lá no
 http://www.astrologiareal.com.br/ e constatar como os astros conspiraram para fazer de mim uma cultuadora da dúvida. Aproveite e faça lá o seu mapa astral. É bacana e de graça. Depois você pode tirar uma onda de astrólogo com seus amigos, vai fazer sucesso. Isso sempre ajuda nas festinhas com gente chata, quando você começa demonstrar seus conhecimentos esotéricos, todos se calam para te ouvir e então é a oportunidade certa de ser o pop.

Acho que escolhi brincar porque o assunto me deixou sem escolha, rsrsrsrrsrs.

Até!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Enquanto acreditar, continuará existindo

Para mim a fé é o sentimento mais nobre. Todos têm fé, até aqueles que se julgam totalmente céticos estão de fato atestando a crença nessa imagem de si.
Sou declaradamente fervorosa. Acredito em Deus, nos santos, nos homens, nas histórias bem contadas, nas palavras, de vez em quando na astrologia, no tarô, nas ervas medicinais. Enfim, acredito em quase tudo, mas gosto de pensar, de perguntar, de pensar sobre o que havia pensado antes.
Escrever é uma ato de pura fé. Sinto que nasci para fazer isso. Uma hora dessa atividade e o restante do meu dia tem sido mais feliz. Não sei explicar, mas estou confortável, aconchegada, tranquila. A minha crença mais profunda, verdadeira, visceral é que o ato de escrever será um ato de cura. Como acontecerá? Não consigo descrever, mas há um impulso que me dá a certeza que nesse caminho está o que preciso encontrar para tratar a minha obesidade.

Pois bem, hoje assisti UMA VIDA SEM LIMITES, não lembrei porque escolhi esse título. É uma daquelas produções exageradamente americanas, em que a busca por fama parece um fim em si mesmo. Trata-se da biografia de Bobby Darin, um cantor americano dos anos 50/60. Não o conhecia mas gosto de algumas de suas músicas. Elas sempre são tocadas nos bailes. A gente dança feliz, sem saber dos altos e baixos da vida do pobre compositor. Ele sofreu na infâcia de uma doença que o condenava à morte ainda jovem. Para consolo ganhou do cunhado um relógio de pulso e o recado: "você vai usá-lo por muito tempo, enquanto você acreditar, continuará existindo".

Lembrei agora da passagem do Evangelho que considero a mais linda:
"Eu não sou digno que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo"

Estou em busca da palavra salvadora, aquela que sairá de mim e depois retornará com novos significados.

domingo, 19 de setembro de 2010

18 de setembro de 2010

18 de setembro de 2010
Sobre JULIA AND JULIE...
Achava brega ter ídolos, assistir ou ler histórias acreditando que poderiam mudar minha vida para sempre. Imitar personagens, nem pensar,  parecia uma pobreza intelectual medonha.
Mas caí em contradição, traí meus (pré) conceitos. Apaixonei por JULIA AND JULIE e passei a acreditar que precisava fazer exatamente o que vi no filme para me resgatar. Não sou muito fã do Raulzito, mas nesse caso “prefiro ser essa metamorfose ambulante”.
Então, vou contar rapidamente a história, que por sinal é simples e despretensiosa.
Julie vivia em NY, tinha trabalho, casa, marido e um vazio existencial. Tinha também um gosto: cozinhar. Adorava experimentar receitas e saboreá-las. Ela descobre um livro de culinária francesa para mulheres americanas, escrito por Julia, editado em 1952. Ela se propõe experimentar as 524 receitas do livro no período de um ano, postando a sua experiência diariamente em um blog.
Durante o projeto, Julie vai pesquisando a vida da Julia e as duas nos vão sendo apresentadas paralelamente. Esta viveu em Paris uma linda história de amor pelo marido e pela culinária e fez dessas paixões o sentido de sua vida. Bem humorada, vibrante, carismática, elegante, aguerrida e apaixonada pela boa comida. Ela faz do seu prazer um trabalho criterioso. Ensina a misturar ciência e arte na culinária. Ela desnuda o prazer de um bom prato, principalmente comido numa mesa rodeada por amigos.
Ao mergulhar no universo de Julia, Julie cozinha, pensa, conversa e compartilha no blog e na mesa os sabores e dissabores do seu desafio. Nesse exercício de um ano ela resgata a crença em si, a força do seu relacionamento amoroso, o prazer de fazer o trabalho e o final é hollywoodiano. O blog foi um sucesso, ela escreveu o livro, fez o filme... O filme tem momentos divertidos, desperta uma vontade louca de conhecer Paris, de cozinhar, de comer, de andar a pé por Nova York, de despachar as amigas inconvenientes, enfim, é um mix bem dosado, sem preocupações filosóficas, sem intenção de ser profundo, mas agradável e delicado.
Ao conhecer as histórias dessas duas mulheres senti coragem de começar a escrever.  A paixão de Julia é emocionante. Os dilemas de Julie são conhecidos meus e de toda mulher que se ache contemporânea.
Vale à pena assistir.
Como as mulheres do filme eu também preciso de um meio de resgatar a confiança em mim, na capacidade de iniciar e concluir meus projetos, na possibilidade de transformar o prazer em trabalho e o trabalho em prazer. Por isso estou aqui.
Até amanhã!

sábado, 18 de setembro de 2010

17 de setembro de 2010

Tudo conspira contra!
Tomada a decisão de escrever, emagrecer, refletir... Surgiram vários obstáculos. Eu estava tão zen quando decidi e agora tão colada à vida real, às necessidades materiais, aos apelos da vida prática. É um convite sedutor à desistência. Mas estou aqui, resistindo, tentando e atenta a uma força inominável que me convida a retornar.
Os testes que a vida me apresenta são uma oportunidade de fortalecer o músculo da vontade. Embora estejamos no dia 18, ainda não encerrei meu expediente do dia 17, portanto, sinto-me completamente à vontade.
Hoje, cumpri o protocolo de me pesar, mas acho o meu peso inconfessável. Preciso de mais tempo e coragem.
Há poucos dias a candidata a presidência da república Marina Silva pediu desculpas publicamente à adversária Dilma Roussef por ter falado, em uma entrevista, que a rival tinha “alguns quilos a mais” do que ela.
Por favor, me expliquem o motivo para se desculpar... Qual a ofensa? Declarar que a outra tem uns quilos a mais é uma ofensa? E por um acaso, ter uns quilos a menos é virtude?
Sou uma mulher batalhadora, boa mãe, companheira, profissional bem formada, cidadã consciente... O peso a mais me torna uma pessoa menos qualificada? Por um acaso o pedido de desculpas da presidenciável desnuda essa visão?
Infelizmente, acho que sim. O meu constrangimento de revelar meu peso indica que internalizei a censura ao excesso de peso. Mas às vezes até me divirto com isso. Confundir magreza com valor é uma miopia hilária. Quantas pessoas desinteressantes há por aí, literalmente, pessoas sem peso: nada de interessante, de humor, de afeto, de sensibilidade... São magras. E esse adjetivo indica a pertinência a um universo paralelo.
Não me sinto confortável com o excesso de peso, mas não posso concordar que magreza seja um valor absoluto.
Emagrecer para mim significa recuperar a mobilidade, o fôlego e a flexibilidade.
Pra começo de conversa, o excesso de peso não me faz sentir uma cidadã de segunda classe.
Vou parar por aqui, revelando apenas que pretendo eliminar 25Kg ao longo de um ano. Ainda assim estarei acima do peso “ideal”, mas meu objetivo é mobilidade, fôlego e flexibilidade.
Ainda falarei sobre JULIA AND JULIE.



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

16 de setembro de 2010

Como a história do blog começou...
No último fim de semana fizemos um festival de cinema em casa. Eu, Bruna e Fernando fomos à locadora e cada um escolheu seus filmes. Trouxemos sete opções. Escolhemos um fim de semana na frente da TV, com muita pipoca, coca-cola e emoção.
 Começamos a jornada com JULIA AND JULIE no sábado à noite.
Passamos para QUEIME DEPOIS DE LER;
Então embarcamos em MELINDA E MELINDA e encerramos o domingo com CAINDO FORA.
Para ter tempo de digerir e poder saborear cada obra paramos...
Na segunda recomeçamos com A PROVOCAÇÃO.
Cinco filmes com diretores, elenco, linguagens, roteiros completamente distintos. Alguns foram escolhidos por mim, outros pelo Fernando. Buscas completamente intuitivas, nenhuma indicação. Mas no silêncio de uma meditação passeei pelas histórias e vi um fio sutil que as ligava. Havia em cada uma delas um escritor. Um personagem que precisava recorrer à palavra escrita para encontrar sentido pra vida, para ordenar seu mundo, para entender sua história, se divertir ou divertir os outros. Enfim, não me lembro dos motivos de cada um. Mas assisti a cinco histórias sobre escritores.
Achei a coincidência muito significativa. Quando estabeleci essa ligação entre as histórias mudei... Nasceu uma coragem repentina, uma certeza absoluta que eu deveria escrever. Um arrebatamento, um desejo tão profundo e mais uma vez a intuição, a certeza, sem validações, que escrever pode me ajudar tratar dos dois dilemas (ou doenças?) que me perturbam.
Daí a junção das pontas: filmes, escrita, obesidade, depressão, blog...
Então, volto a JULIA AND JULIE e me valho da ajuda da culinária: vou tentar misturar esses ingredientes e criar um bom prato. Vamos ver se será uma boa receita. O importante é que seja ... diet.
Decisão tomada, ação iniciada...
Estou sentindo uma paz profunda, uma clareza de idéias e sentimentos que poucas vezes experimentei.
Acho que ainda preciso voltar a JULIA AND JULIE


Começando

Hoje, estou dando início a uma aventura sonhada há muitos anos e adiada, por inibição, pelo mesmo tempo.
Estou começando a escrever...
Fiquei muito inspirada pelas histórias de Julia and Julie, contadas no filme de mesmo nome. (Vou contar como vi o filme mais adiante). Então, criei coragem, deixei de lado o medo do clichê e estou aqui. Hesitando, com muitas censuras, mas disposta a vencer esses sentimentos por amor às histórias.
A idéia é a seguinte: estou me propondo a escrever diariamente, durante um ano, para viver o prazer de pensar, sentir, dar asas a tantas idéias e palavras que nascem todos os dias e que até hoje eu descuidei e deixei morrer. Acho que as palavras mortas, ignoradas, deixadas ao acaso se transformaram em tristeza, obesidade e depressão.
Então, surgiu o tema. Sem ensaio, pesquisa ou preocupação com o alcance, escolhi contar sobre como depressão e obesidade se instalaram na minha vida. Ao longo dessa jornada de um ano espero me tratar, emagrecer e quem sabe diminuir ou eliminar medicamentos para a depressão.
Vou postar essa história para partilhar com meus amigos e conhecer pessoas que vivam experiências semelhantes e queiram conversar sobre o assunto.
Tenho um tema, um roteiro e um desejo de viver essa experiência como uma aventura. Espero por surpresas ao longo do caminho. Isso me deixa com um frio gostoso na barriga, aquele que aparece antes das viagens e dos encontros especiais.
Espero misturar esses ingredientes com impressões sobre os filmes e livros que for lendo nesse período. Amo cinema e literatura.
Às vezes acho que não há mais nada para se escrever. O mercado editorial multiplica temas, promove releituras, repetições e isso tudo vai gerando um excesso de informação muitas vezes cansativa. Sem falar na internet...
Mas penso também que cada história é única e quem a vive pode contar e dividir seus encantos, porque haverá sempre alguém com quem partilhar. Essa carta sem destinatário fixo é acolhida e acolhe. Leva conforto, prazer, reflexão, inquietação, criação, unindo quem escreve e quem lê.
Todo dia ouço que a obesidade se tornou um problema de saúde pública. Acho muito desagradável...
Vivo essa história como um dilema pessoal, ligado às minhas questões existenciais, aos valores que aprendi a cultivar. Nenhuma obesidade é igual à outra. Espero, ao escrever, dar o nome e o destino certo para os incômodos que me fazem recorrer à comida.
Comecei! Estou me sentindo vitoriosa! Amanhã conto como o filme me estimulou...