Ontem ouvi uma citação feita por Marcia Tiburi, no programa do Jô:
"Os limites do meu mundo são os limites da minha linguagem"
Aceitei prontamente. Repousei momentaneamente nessas palavras, acreditando que a paz proporcionada pelo exercício da escrita seria uma prova incontestável da sua veracidade. Expressar a minha visão do mundo seria uma forma de criar mais espaço nele.
Calei. O silêncio me permitiu romper limites, deixar os apegos e entrar em um universo inominável. O conforto da meditação, a calma profunda, a respiração curta e lenta, os pensamentos quietos me anularam todos os limites por alguns momentos.
Experimentei mudar a frase para: a linguagem cria limites para o meu mundo. Fez mais sentido.
Este é um exercício de pensamento totalmente descompromissado com a visão do autor, que infelizmente desconheço. Simplesmente foi uma frase que escolhi. Ela saltou direto pros meus ouvidos e fez o burburinho necessário para ser tema de hoje.
Então, entre limite e linguagem me perguntei porque tenho mais facilidade de usar a palavra obesa do que a palavra gorda.
Parece que gorda é xingamento, adjetivo com significados pejorativos. Já obesa é mais leve, parece doença, aí sim, é aceitável.
Por sorte, ou por reflexão, consigo me manter relativamente imune à carga depreciativa do rótulo gorda. O que acho feio mesmo é gente superficial, desonesta, e que não se posiciona conscientemente no espaço e no tempo que vive. Ser gorda, na minha visão, é estar momentaneamente com uma limitação física e, às vezes, fora de um conceito estético.
Essa consciência me permite ser independente, produtiva, me divertir, viver bem com meu marido, e receber um tratamento respeitoso das pessoas com quem convivo.
Mas muitas mulheres e homens engolem a idéia que ser ou estar gordo é ter um carimbo em sua identidade atestando que são cidadãos de segunda classe.
Consigo manter um distanciamento desse julgamento social que me permite autonomia e felicidade, mas conheço gente que chega pedindo desculpas por existir. Justifica-se à todo momento pelo seu corpo gordo, como se ele fosse o único instrumento de penalização ou de realização na vida. Me compadeço muito por isso.
Tenho diversos sofrimentos com o excesso de peso. Estou com restrições de movimentação, sinto dores constantemente, não consigo ter o mesmo pique de trabalho de alguns anos e kilos a menos e a glicose está ligeiramente acima do normal.
Quero urgentemente emagrecer. Estou ciente que há um preço muito alto a ser pago pelos excessos cometidos com a comida. Mas nesse preço, para mim, não está embutida uma dívida social.
Os limites do meu mundo não serão dados pelos sentidos depreciativos das palavras gorda ou obesa.
Gostaria que todos os gordos, negros, gays, idosos, deficientes físicos, soubessem lá bem dentro do coração que ser diferente é apenas ser... diferente.
Até.
Silvinha ... parabens!
ResponderExcluirEstou encantada com o seu blog, com a sua determinação e força de vontade; vou acompanhar diariamente o seu blog e ficar aqui na torcida.
Admiro e tiro o chapeu para pessoas como vc que tem o dom para escrever e expressar de uma forma muito linda sentimentos, pensamentos, frustraçoes, alegrias, etc ... realmente escrever é um dom!
Durante este 1 ano muitas coisas inusitadas, surpresas, obstaculos vao surgir ... mas com certeza vc ira' super cada um deles e construir uma historia de vitoria linda, principalmente pq vc e' uma pessoa especial e esta cercada de pessoas e amigos que acreditam e estao torcendo por vc! Conte comigo mesmo "daqui" de longe na sua torcida.
Nao sei qdo vou ao Brasil, nem sei se vou no proximo ano, mas com certeza da proxima vez que eu for quero ve-los ... ou quem sabe vcs nao vem passear aqui em NY, vou adorar passear com vcs aqui!
Beijoooo grande pra vcs!
Com carinho,
Nathalia Boroni