terça-feira, 4 de janeiro de 2011

RETRATOS DA VIDA

Meu filme inaugural em 2011 foi RETRATOS DA VIDA. É a quinta vez que o assisto e a beleza desse clássico se tornou ainda maior para mim. Lembro que ele inaugurou também a minha vida adulta. Fui vê-lo no cine Roxy (quem se lembra?), em Belo Horizonte, em 1985.  Tinha acabado de me mudar para a capital, como ainda não tinha feito amizades, o cinema tornou-se o programa mais frequente. Depois que vi RETRATOS DA VIDA, a sétima arte virou paixão.
O filme conta as histórias de famílias na Rússia, Alemanha, França e Estados Unidos cujos destinos são duramente marcados com a perda de entes queridos, a separação dos filhos, a prisão nos campos de concentração, durante a Segunda Guerra.
A vida de cada personagem é afetada pelo horror.  As histórias de amor são desfeitas e as famílias despedaçadas pela convocação dos homens para as batalhas ou pelo exílio.
A Guerra chega ao fim, mas as pessoas permanecem com suas perdas, suas esperanças bombardeadas, sua alma cheia de dor. A arte é o meio dessas pessoas retornarem à sua história. Cantando, dançando, regendo ou tocando um instrumento, cada um tenta resgatar algum poder sobre seu destino. A trilha sonora é maravilhosa e as coreografias também.
Eis que chegam os anos 60 e os filhos nascidos durante o conflito entram na trama, já crescidos. Os caminhos desses adultos vão se entrecruzando. O amor e fidelidade à música e dança passam de pai para filho e vão desenhando os encontros entre os personagens da primeira, da segunda e da terceira geração.
Os adultos e os nascidos nos anos 80, são ainda herdeiros das marcas do grande conflito. Estavam sob o jugo da guerra fria e da divisão do mundo entre comunismo-capitalismo. Continuam amando e fazendo arte na vida, agora para superar os dilemas da modernidade: individualismo, consumismo, drogas, niilismo.
O culto ao belo se sobrepõem e dá unidade ao filme. No fim, o diretor nos presenteia com uma coreografia divina, criada para o Bolero de Ravel e a gente então explode de emoção.
É filme pra gente chorar baixinho de tristeza de ver que os conflitos entre as nações é uma extensão das intolerâncias entre pessoas. Depois de tanto horror, é incompreensível a presença ou a iminência de guerras. Mas também, é filme para nos fazer chorar baixinho de encantamento e arrebatamento. A música tão linda afaga a alma e faz lembrar que a esperança é sempre possível. Podemos ter nossa redenção.
É muito bacana ver um filme muitas vezes, mas em épocas tão diferentes da vida. Retratos da Vida esteve na minha vida aos 18, aos 20, aos 30 e agora me deixou ver como mudei.
Quantos detalhes meus olhos não captaram quando o assisti pela primeira vez...
Quantos encantos passaram despercebidos...
Quantos entendimentos  não alcancei...
Depois de viver mais, pude fruir mais. É sinal que o tempo nos dá de presente o poder de tirar a tampa da alma para ver e cheirar o caldo saboroso, por vezes apimentado, das emoções. Acho que nos dá um pouquinho mais de entendimento também.
Tive um choro permanente e bem quieto durante o filme. Os sentimentos dos personagens entraram no meu coração sem encontrar resistências. Me senti tão perto e tão igual a gente do mundo todo. Essa irmandade me trouxe a compreensão que somos todos ligados nas dores e nas boas expectativas. Esse deve ser o sentimento que inspirou o nome do feriado: DIA DA CONFRATERNIZAÇÃO UNIVERSAL.
Desejo confraternização a todos!

A MINHA  ESCOLHA

A certa altura do filme, um repórter pergunta a um maestro que serviu ao exército se ele considerava as gerações dos anos 80 mais infelizes do que aquelas que viveram durante a Guerra. Ele respondeu prontamente que sim, argumentando que quem conheceu o horror da guerra entendia que tudo que não era a guerra, era bom.
Escolho para a minha vida essa mensagem de contentamento. Quero olhar para quem sou e para o que tenho com alegria e gratidão.
Não há bem que possa trazer mais alegria do que o bem estar.
Amanhã começo a fazer Pilates. Meu jeito de buscar o que é essencial.
Até amanhã!

Nenhum comentário:

Postar um comentário