quinta-feira, 28 de abril de 2011

O culto ao excesso


Passou a Páscoa e eu não me acabei de comer ovos de chocolate. Usei o tempo do feriadão para descansar, terminar de ler e voltar a assistir RAZÃO E SENSIBILIDADE. Na segunda voltei à rotina com muita preguiça. Acho que assim caminhou a humanidade nessa semana, porque depois de 4 dias de folga total o corpo amolece e é difícil retomar o ritmo.
Mas, voltando à festa, tive notícias de pessoas que ganharam 15, 18, 20 ovos de Páscoa... Imaginem o esforço para dar conta de comer ou aguentar as pontas e resistir aos apelos desse excesso presentes. Estamos vivendo tempos de culto ao excesso. Tem tanta oferta de tudo, incluindo aí os ovos de chocolate, que tornou-se normal dar ou receber 20 (ou não sei lá quantos) ovos de chocolate. A intenção é pura e o gesto é aparentemente generoso. Ocorre, que por trás dessa delicadeza funciona a máquina do consumismo. Ela é eficiente e totalmente brutal.
Junto a tanto consumo, estão a multiplicação dos vícios, das compulsões, das obcessões e da... obesidade!
A obesidade está intimamente ligada ao culto ao excesso. Tenho escrito aqui sobre a minha, porém, não descuido de observar que a gordura é um problema social e recente, historicamente falando. É nascida e criada no berço do consumismo desenfreado. Por isso, ela merece ser analisada como um fato sociológico.
Pensando bem,  ela nada mais é do que o próprio excesso de consumo. A pequena porção não satisfaz. Um pedaço não é o bastante. Ao comer mais, estou comprando mais.
Poderíamos dizer que essa grande fome dos obesos é existencial? Na falta do afeto, da profundidade, da reflexão, do entendimento, da amizade, ou de qualquer outro valor, vai comida mesmo? 
A necessidade de pensar, de sentir e de transcender vai sendo confundida com uma necessidade de ter mais? Poderíamos usar esse raciocínio para entender o desejo por mais comida, bebida, droga, sexo, adrenalina, jogo até os objetos. Qual mulher que nunca se aliviou fazendo "comprinhas"?
Lembrei do Renato Russo:

Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.

Assunto comentado, como poderia deixar o conforto desse entendimento iluminar as minhas ações? Ando pensando em voltar ao mundo da simplicidade. Há meses essa palavra vem ganhando encantos para mim.

Um ovo de Páscoa para toda a família
Refeições humildes no dia a dia, comida diferente, só no domingo
Andar a pé, de mãos dadas, para divertir
Ler, cheia de paixão, o romance de 200 anos que ainda faz chorar

Acho que a minha infância tão humilde teve mais lições do bem do que as loucuras eletrizantes e sensações espetaculares ultraradiantes do mundo atual. Estou de volta para a leveza desse tempo. Quer vir comigo?
 "O pensamento, é que me trás o livramento, o queme deixa positivo, e me faz bem ao coração"
Peço licença para repetir o meu ídolo Toni Garrido para endereçar esse convite.
Até!



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